A fachada exterior do Palácio era iluminada com quinze lanternas, suspensas em braços de ferro fixos nas paredes. Cada lanterna tinha três luzes de azeite, que se conservavam acesas até à 1 hora da madrugada. Guardas destinados e destribuídos pelo Palácio, chamados Moços de Bomba, vigiavam, acendiam e apagavam as luzes, cortavam os morrões, e andavam munidos de uma vasilha com azeite para as lampadas, lanternas e lamparinas. No Palácio havia uma Casa da Bomba, com todos os apetrechos precisos em caso de incêndio, no Jardim Botânico havia outra e na Abegoaria, duas. Candieiros e seu consumo em azeite Numa nota existente no Arquivo de Santa Luzia, descreve-se o seguinte: Consumo dos candieiros no ano de 1794. Na Sala da Música: quatro candieiros grandes, dois de relógio, dois amarelos e dois lampanários, gastavam duas canadas de azeite. Nos aposentos da Princesa D. Carlota Joaquina, oito candieiros grandes, e dois lampanários que gastavam seis quartilhos. Nos quartos das Senhoras Infantas, oito candieiros grandes e um amarelo, que gastavam oito quartilhos e meio. Nos quartos do Príncipe D. João, três candieiros grandes, dois de relógio, e dois lampanários, que gastavam canada e meia de azeite. Na Sala da Mesa de Estado, dois candieiros grandes, que gastavam dois quartilhos de azeite. Na casa de lavar a prata, três candieiros amarelos de parede, que gastavam quartilho e meio. Na Sala da Tocha, três candieiros de relógio. No corredor pequeno a seguir, sôbre peanhas, dois candieiros grandes, que gastavam quatro quartilhos. Em outros corredores, quatro candieiros amarelos, que gastavam quatro quartilhos. Nos corredores principais de comunicação, oito candieiros de relógio, que gastavam onze quartilhos. Na escadaria de pedra, dois candieiros de parede, que gastavam dois quartilhos. As outras salas e dependências do Palácio não têm consumo certo e aqueles são os que se preparam tôdas as noites. Os lampeões grandes (1), serpentinas e lustres estavam a cargo do mestre da Casa da Bomba. Durante o tempo do Govêrno Militar Francês, e ocupação pelas tropas inglesas, a iluminação do Palácio era a azeite. Para tal fim, recebeu o Almoxarife ordem para fornecer azeite para os candieiros que se colocaram nos corredores, onde Junot disposera guardas para a vigilância interior do Palácio (2). Gastavam-se em média cinco quartilhos de azeite por dia. (1) Hiecke Irmãos & C., forneceram a 3 de Junho de 1774, para o Palácio de Queluz, 2 lampeões de vidro de 6 lumes, por 37$200. 3 lampadas em bronze para as Capelas do Paço, por 3c000. 4 serpentinas de latão com relevos, sendo as bases em bronze dourado, por 19 200 cada (cada serpentina era para 4 velas). 5 pares de castiçaes em latao, simples, por 9#800. Os modelos dos relevos foram feitos em talha por Antonio Angelo. (2) Palácio de Queluz. O Governo Militar Francês. João Pereira, foi encarregado de vigiar, limpar, acender e apagar as luzes, vencendo 200 réis diários. No ano de 1805, João Diogo de Barros Leitão e Carvalhosa, foi nomeado para superiormente dirigir todos os trabalhos relativos à iluminação do Palácio e Casa da Bomba. Quando o sr. Afonso de Dornelas escreveu a vida e obras de D. António Caetano de Sousa, teve ao seu dispor milhares de documentos que estudou e alguns que deixou apontados para novos trabalhos. Estes documentos foram-lhe cedidos pelo sr. António Feliciano de Andrade Albuquerque de Bettencourt, representante da família do grande escritor D. António Caetano de Sousa. Á mesma família pertenceu o Almirante Pedro Mariz de Sousa Sarmento (1), que foi encarregado de organizar e estabelecer a iluminação no Palácio de Queluz, no tempo de El-Rei D. João VI. Todos estes documentos, referentes à mesma iluminação, vieram misturados com outros papéis, que o sr. Afonso de Dornelas emprestou a José Queiroz, que estudava «A Luminária em Portugal». Desgraçadamente, morreu José Queiroz nessa ocasião e os (1) Afonso de Dornelas, História e Genealogia: e Separata, D. António Caetano de Sousa, e sua vida, a sua obra e a sua família Subsídios. preciosos elementos cedidos por Dornelas, morreram também porque nunca mais apareceram. Esses documentos constavam de projectos de vários fabricantes de objectos de latão com todos os elementos para a construção de lampeões e respectivos preços. Disposição da mesma iluminação no interior do Palácio, orçamento com a despesa da iluminação; quanto azeite gasto por mês com cada lampeão e quantidade de torcidas; pessoal para a limpeza, etc. As descrições dos lampeões eram muito completas, percebendo-se perfeitamente a riqueza das ornamentações. Com a morte de José Queiroz, perdeu a nação um incansável crítico de arte: Afonso de Dornelas perdeu os seus preciosos documentos, e nós, perdemos também, visto não podermos enriquecer o nosso trabalho com tão interessante documentação. |