. Acha Vmce. em Venezuela, uma facçaõ, que repentinamente se tem feito poderosa; um club de Jacobinos precipitados, que tem decretado a independencia, contra a vontade dos povos; que vam a involver em sua ruina com tal imprudencia, e aos quaes querem dominar com a violencia e com o terror. E perdoe o Congresso federativo de Venezuela ésta pouquidade, ainda que elle sêja composto dos representantes, que cada uma das provincias elegeo á sua satisfacçaõ, em plena, e pacifica liberdade, e lhes deo sem duvida as suas instrucçoens conrespondentes. He verdade que por isso deve a presumpçaõ estar a seu favor, pois elles devem conhecer melhor a extençao, a qualidade de seus poderes, a situaçaõ das cousas e o imperio das circumstancias. Porem o Español em Londres, naõ lhes havia de pagar a carta de cidadaõ Venezuelano, com outra de repulsas, se naõ tivesse por si todas as razoens do Mundo." "Quaes saő ellás, Sñr.? He a independencia em si? Naõ; porque (Vmce. diz, que) Venezuela tem tanto direito para declarar a sua como Roma, França, ou Inglaterra." ¿Será ter-se declarado independente do Governor de Hespanha? Tampoco: " porque a conduuta de seus governos tem authorizado Venezuela, para naõ ter com elles alguma contemplaçaõ." A p. 17, achamos um rasgo da historia da revoluçaõ da America, que nos pareceo novo; e que patentea mais um facto, que augmentará as difficuldades da reconciliaçaõ da Hespanha com a America. Contém-se nestas poucas palavras. "Que miserável, e illiberal composto he a constituiçaõ de Hespanha, depois de dous annos, e meio de trabalho. ¡ E depois de dou's mezes, unicamente, quanto melhor e mais bem combinada he a de Cundinamarca, aonde se restituio aos Bispos a custodia, que Deus lhes deo, e o Apostolo lhes encarrega do deposito da doutrina, quando a commissaõ de Cortes acaba de approvar o tribunal antievangelico, que se estreou em Castella queimando dous mil homens, como lemos em Mariana. L. 24. cap. 17!" Vemos poraqui a aboliçaõ da Inquisiçaõ no novo Estado de Cundinamarca, e a nova objecção que daqui resulta de se reconciliarem com a Hespanha, aonde a commissao das Cortes, encarregada de examinar este négocio, recommendou a sua approvaçaõ. Não permittem os nossos limites que façamos mais lon : gos extractos desta obra; mas naõ podemos deixar de dizer, que as notas contem illustraçõens, e factos, que saő da maior importancia; e para dar ao Leitor uma idea da impressaó, que tal obra deve fazer nas colonias da America, e do seu effeito em lançar barreiras insuperaveis á reconciliaçao entre a Hespanha Europea, e Americana; copiaremos aqui uma passagem da nota 14; que se refere ao mesmo assumpto acima. Esta questaõ se agita; porque, entre outros meios lempregados pelos Europeos na America para acalmar a revoluçaő; foi o usar das excommunhoens, e da influencia dos Inquisidores; pelo que assim falla este A. ao povo p. 108. Respondêram os Inquisidores á celebre carta do Bispo de Blois, que as penas temporaes, que impunham, dimanam do poder dos Reys. O nosso tribunal, dizem elles, he Real." Nao responderiam assim ha dous seculos; porém hoje naõ podem deixar de confessar a verdade. Nao gritem pois à violaçaõ da Fé, quando se toca em um tribunal de policia Real, e se averigua se convem á liberdade porque pelejamos. Saiba pois o povo, que não se tracta nisto de Religiao; mas somente de um tribunal Real irregular, e exorbitante, proprio só para manter o despotismo dos reys, que por isso se empenháram ein sustêllo; a pezar das vivas reclamaçoens de seus vassallos. Já dizem que as Cortes o tem supprimido, e naõ podia ser menos com as luzes que lançaram sobre este objecto o seminario-patriotico, e o Duende-politico. A incompatibilidade da liberdade Hespanhola, com o estabelicimento da Inquisiçaõ, he o Montante sobre os espadachins, que pelejam a favor da Inquisiçaõ.” Referimos ésta passagem, para mostrar quam pouco tem feito os Governos de Hespanha, para alhanar as diffenças, entre a metropole, e as colonias, e quam habeis tem sido, em comparaçaõ dos Europeos, os revolucionistas da America, que nao tem deixado perder nenhuma destas circumstancias, que pódem promover a separaçaõ, fazer ver aos seus, que naõ devem esperar reformas uteis da Europa; mas sim dos seus mesmos Governos compostos na America. O paragrapho seguinte he mui notavel para que o ommittamos, e dará a conhecer a idea que os Americanos 4 Hespanhoes fazem dos Governos da Hespanha, que se tem rapidamente succedido uns aos outros desde as Junctas Provinciaes, até a actual Regencia. S O que parece estranho (p. 19) he que tambem Vmce. nos faça negaças, como se fosse um Hespanhol preocupado Isso he pôr o o punhal nas maõs do partido anti-americano nas Cortes, que faraõ de Venezuela, se o souberem manejar, a victima de sua vingança." Se o souberem manejar! Naõ ha medo de que tal saibam. O principal mal de Hespanha está na cabeça. Se a tivessem ja os Francezes teríam repassado os pyrineos, as Americas todas estariam cooperando; e naõ haveriam elles mesmos de estar em anarchia. Vmce. dice, que os das Côrtes estávam loucos: agora, com a exclusaõ injusta das castas assegura, 'que tem cahido no mais estupendo delirio.' ¿E quer Vmce, que Deus faça o milagre de restituir o juizo a injustos arrematados, só para que acertem em vingar-se? ." Neste papel se desolvem os principios da descuberta da America, o fundamento dos Reys de Hespanha para conquistar aquellas terras estribando-se na doaçao que lhes fizéra o Papa Alexandre VI.; a forma de Governo, que naquelles paizes introduziram os Hespanhoes; a necessidade de remediar os erros e preocupaçoens do Governo Hespanhol; e os motivos porque nao podem esperar da Metropole estes beneficios que desejam. Nós não temos a menor duvida de que esta publicaçaõ causará um effeito estrondoso na America; e crêmos tambem, que só se lhe póde responder com factos; porque tres annos de promessas nunca cumpridas; faraõ incredulo ao homem mais simples. Particularités et Observations, &c. Particularidades e observaçoens, sobre os Ministros de Finança de França, que tem sido mais celebres, desde 1660, até 1791 ; 1 τοlume, 8° Londres, 1811. A biographia dos homens publicos he um dos ramos mais instructivos, e importantes da historia, para um politico, porque por elles nos aproveitamos naō só de nossa experiencia; mas tambem dos erros e acertos de nossos : maiores. He difficil feferir a historia de maneira que a faça util, sem entrar nos motivos; e causas das acçoens que se referem, em tanto quanto he possivel pesquizar as intençoens dos homens; porque comparando a intençaõ com o acto, e resultado, pôdemos aproveitarnos do exemplo imitando, ou evitando o proceder da pessoa que estudamos. Tal politico intenta uma negociaçaõ com tuma Potencia sem intençaõ nem desejos de que ella seja bem succedida, e unicamente, para com isso fazer negaça a outra: sem, portanto, entender as molas occultas, mal podemos saber se os meios empregados para a negociaçaõ foram ou nao bem adoptados, e saõ dignos de imitaçao, ou vitandos. He este o grande uso da biographia. A de que tractamos he d'um genero um pouco ingular, e ainda que os escriptores Francezes se deixem muitas vezes levar da vivacidade de sua imaginaçaõ, com tudo a facilidade de sua penetraçaõ os faz proprios para desempenhar uma obra desta natureza. Assim o A. louva e vitupera o mesmo homem, segundo os differentes aspectos em que o considéra; e segundo as differentes acçõens de que tracta. Na verdade, uma biographia he necessario que represente as acçoens boas e mas dos homens publicos; porque aquelle, cujo numero de boas qualidades prepondéra sobre as más, deve ser chamado bóm; e outro, cuja preponderancia he de mas qualidade, deve ser chamado máo: e poucos seraõ os homens em que se naõ ache esta mistura de character. O seguinte extracto fará ver como o A. se esmera em fazer estas distincçoens uteis; e traçar os acontecimentos ás suas verdadeiras fontes, (p. 358.) "Naõ saō somente os Ministros de Finanças os que tem experimentado ésta aberraçaõ do juizo nacional; tem-se ella extendido até aos reys, a todos os objectos do Governo, e aos objectos que lhe saõ extranhos, Luiz XIV., tem sido exaltado, e quasi adorado: quando empregava a uma vaã magnificencia, a substancia de seus subditos; quando fazia correr o sangue humano por guerras injustas; quando incendiava o Palatinato, quando fazia pregar a Deus no seu .: reyño, por meio da gente de guerra. E quando sustentando com coragem os desastres da guerra da successaõ de Hespanha, mostrou a heroica' resoluçaõ de tornar a apparecer em sua velhice, á testa de seus exercitos vencidos, e de morrer como rey; naõ lhe perdoáram a culpa de ser infeliz: e o povo insultou a pompa funebre deste monarcha, que a pezar de grandes faltas, tinha feito grandes cousas, enobrecido o throno, e illustrado o nome Francez. A direcçaõ dos negocios publicos tem, assim como a direcçaõ dos negocios de finança, sido mal appreciada. Ouçamos Mr. de Torcy, um dos mais sabios ministros que teve a repartiçaõ dos negocios Estrangeiros. Quando a paz de Utrecht estava ao ponto de ser assignada, em quanto El Rey a retardava, para obter a restituiçaõ de Tournay, se murmurava em França de sua firmeza, e muita gente persuadida de suas proprias luzes, tractáva como teima insensata, a constancia em pedir uma praça, que certamente nunca se obteria pela negociaçaõ. Que comparaçaõ diziam elles entre Tournay, e a paz; naõ vale mais abandonar uma cidade do que deixar de concluir ésta paz taõ necessaria á salvaçaõ do reyno? Depois do abandono de Tournay, estes mesmos politicos murinuráram ainda mais; e tractáram de fraqueza, o entregar aos inimigos uma praça taõ necessaria á segurança da fronteira. Sobre a erecçaõ das obras mais uteis á naçaõ, mais favoraveis ao commercio, de maior honra aos reys, a quem saõ devidas, ha a mesma inconsequencia. Aqui he a Mr. de Vauban quem devemos ouvir, o maior engenheiro, e talvez o memelhor cidadaõ que haja en França. O canal de juncçaõ do Ocea no ao Mediterraneo, naõ se acabou, e fez navegavel, senaõ pouco tempo antes da morte de Mr. Colbert; dous ou tres annos depois Mr. de Vauban foi examinallo, e no relatorio, que deo delle observou, que em quanto viveo Mr. de Colbert honve um murmurio geral contra a obra deste canal; que se dizia que naõ podia ser de utilidade alguma, e que éra um abismo, em que se interrávam sommas immensas; que entretanto o unico reproche que se podia fazer a Mr. de Colbert, éra absolutamente o contrario; isto he de naõ ter feito, por uma obra taō importante, sacrificios assas grandes; naõ ter dado a este canal tanta profundidade como largura, o que poderia ter feito aprovéitando-se dos differentes rios e lagos; que entaõ se poderiam transportar de um mar a outro, as mercadorias, sem ser preciso descarregar." וי Necker foi um homem de Estado demasiado conspicủó na França, para que o Author deixasse de se occu |